Resumo: |
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o movimento imigratório voltou a crescer. Para o Brasil vieram principalmente portugueses, italianos e espanhóis, além de diversos grupos de refugiados. Discussões exaltadas a respeito da seleção desses imigrantes renasciam entre as autoridades brasileiras preocupadas em compor uma população eugenicamente controlada, vista como ideal para integrar-se ao projeto do Brasil moderno, industrializado e urbano. Paralelamente criavam-se formas de burlar a legislação. Dos 77.801 imigrantes espanhóis que desembarcaram no Porto de Santos, entre 1946 e 1964, aproximadamente um terço eram originários da Galícia, região noroeste da Espanha, conhecida por sua forte tradição rural e pela imensa quantidade de homens e mulheres que a deixaram, desde o século XIX, em direção à América. A carência de perspectivas em uma Espanha entravada pelo autoritarismo do regime franquista e o apelo constante para o desprendimento e o consumo, instigavam aqueles que não podiam esperar. O mundo rural galego dissolvia-se diante da penetração de novos recursos tecnológicos que promoviam a dissolução dos valores tradicionais. Deslocar-se era uma forma de recusa e ao mesmo tempo de aceleração desse esgarçamento da vida comunitária. Através de fontes diversas: correspondência diplomática, listas de desembarque, documentação das associações de imigrantes, jornais, revistas, publicações oficiais, literatura, entrevistas, tentamos nos aproximar da história dos galegos que vieram para São Paulo nesse período, buscando compreender como se deu sua inserção em um cotidiano marcado pela instabilidade e pelo desenraizamento. Situada entre às margens de projetos políticos-culturais hegemônicos, a história desses imigrantes desvia-se do discurso da identidade, fugindo das abstrações generalizantes que possam ser construídas, revelando todo seu caráter incongruente e multifacetado |