Os Mitos e Deuses Mesoamericanos através da Crônica Espanhola na Época da Conquista

Eduardo Natalino dos Santos (Orientador: Janice Theodoro da Silva)
Dissertação de Mestrado
Programa: USP/SOCIAL
Defesa: 2000
Resumo: Quando os temas tratados são a conquista e a colonização Mesoamérica, e mesmo suas civilizações pré-hispánicas, as crônicas produzidas pelos religiosos espanhóis durante o século XVI são as fontes mais utilizadas nos trabalhos historiográficos e gozam de verdadeira exclusividade nos manuais e livros didáticos de História. Analisar historiograficamente esta produção é o amplo objetivo deste trabalho, que particularizou-se examinando como os supostos mitos e deuses mesoamericanos foram entendidos e narrados nas obras de Bernardino de Sahagún (Historia general de las cosas de Nueva España), Diego Durán (Historia de las Indias de Nueva España e islas de la firme) e José de Acosta (Historia natural y moral de las Indias). Em outras palavras, esta dissertação procura apresentar quais eram os pressupostos teóricos e objetivos imediatos destas obras e de seus autores ao tratarem dos mitos e deuses mesoamericanos. Para realizar esta tarefa, cotejei as referidas crônicas religiosas com fontes mesoamericanas produzidas no mesmo período, particularmente com as crônicas elaboradas por indígenas mesoamericanos (escritas em nahuatl, quiché ou maia de Iucatã, ou mesmo em castelhano e outras línguas européias) e com os códices coloniais glosados. Estas obras serão chamadas aqui de fontes híbridas, muitas das quais foram produzidas em colaboração com os próprios religiosos espanhóis, que valeram-se de seus fragmentos, descontextualizado encaixados em uma outra estrutura narrativa, para produzirem suas crônicas. É claro que as crônicas mesoamericanas e os códices coloniais formam um enorme universo documental impossível de ser abarcado em um trabalho. Selecionei no interior deste universo as obras que foram produzidas durante o século XVI, que tratavam de forma mais ou menos ampla dos supostos mitos e deuses mesoamericanos, que estavam publicadas e acessíveis, e em quantidade tal que suas consultas fossem viáveis dentro dos ) prazos previstos. As obras selecionadas foram o Popol vuh (área maia), os Anales Cuauhtitlan, a Leyenda de los soles, a Breve relación de los dioses y ritos de gentilidad, o Códice Vaticano A, a Historia de los mexicanos por sus pinturas, Histoire du Mechique, o Códice Ramirez, a Crónica mexicana e a Crónica mexicayotl (área predominantemente nahua). Na Introdução, intitulada Hipóteses de trabalho, apresento algumas implicações teóricas envolvidas neste tipo de análise,o roteiro seguido pela pesquisa, a delimitação do objeto de estudo e a pertinência e suposta importância deste tipo de trabalho dentro da produção historiográfica brasileira. No Capítulo I, intitulado 0 mundo, a vida e a obra dos cronistas religiosos espanhóis, procuro caracterizar a produção de cada cronista, explicitando seus objetivos, suas visões de mundo, seus modos de trabalho e as fontes utilizadas na confecção de suas respectivas narrativas. 0 Capítulo II, que intitula-se Mesoamérica: um universo cultural e próprios testemunhos, consiste em uma espécie de introdução ao mesoamericano. Nele relaciono as principais características e realizações culturais que conferem unidade a esta região. Apresento também um pequeno esboço do desenrolar histórico mesoamericano, desde as origens olmecas até o momento de predomínio da Tríplice Aliança. Dentre as características culturais mesoamericanas encontramos uma sólida e milenar tradição de pictoglífica que,certamente, fundamentou a produção de muitas fontes híbridas utilizadas neste trabalho, e que neste capítulo são apresentadas e caracterizadas. No Capítulo III, intitulado Principais deidades mesoamericanas: análise comparativa entre as crônicas religiosas espanholas e as fontes híbridas, procuro mostrar o modo como as principais deidades foram tratadas pelas crônicas religiosas espanholas em contraste com o tratamento dispensado pelas fontes híbridas. Esta comparação tende a ) explicitar as principais características dos tipos de estruturas narrativas, o que consequentemente pode nos revelar algo de ambas visões de mundo. O Capítulo IV, que intitula-se As idades do mundo, os rumos do Universo calendário mesoamericano: análise comparativa entre as crônicas religiosas espanholas as fontes híbridas, é uma continuação da proposta iniciada no capítulo mas que tem como tema as concepções mesoamericanas acerca das origens mundo e da divisão e qualificação do espaço e do tempo, manifesto principalmente no seu sistema calendário.Nas Conclusões reuni reflexões e indagações, dispersas por todo trabalho, que mostram os principais resultados e reflexões obtidos no processo de comparação entre as crônicas dos religiosos espanhóis e as fontes híbridas
URL: Tese não digitalizada