Resumo: |
Os vários estudos que se empreenderam sobre a Inconfidência Mineira de 1789 tomaram como referências centrais de análise o processo-crime e os acontecimentos mais diretamente inscritos no corpus documental conhecido como Autos de Devassa da Inconfidência Mineira. O presente estudo procura reler e criticar alguns destes textos historiográficos e evidências à luz das perspectivas que se abriram a partir da expansão de estudos sobre a política e economia setecentistas bem como sobre a insubmissão das Minas em geral. Nossos estudos procuram contribuir para a crítica de algumas teses correntes sobre o tema, notadamente aquelas correlatas à afirmação da existência de um projeto nacional definido e acabado em torno do qual se articularam os inconfidentes. A atribuição de sentido intrínseca e exclusivamente nativista ao movimento esteve estreitamente associada à constituição da memória nacional uma vez que o espaço de legitimação simbólica que um movimento desta natureza pode adquirir diz respeito, nestes casos, antes às questões políticas mais imediatas do que ao passado propriamente dito. Gerado em um contexto de transição entre o Antigo Regime e a Modernidade, em que valores estamentais como honra e precedência chocavam-se com emergentes perspectivas de classe, como riqueza e propriedade, o movimento foi expressão de uma série de ambigüidades e contradições próprias do período. Seus protagonistas, ações e projetos podem ser melhor compreendidos se considerados no contexto de heterogeneidade social e econômica da qual o conteúdo político e o sentido do movimento são expressões diretas, do que de forte coesão ideológica em torno de um projeto de nação predefinido. Nesse sentido, a Inconfidência Mineira seria uma síntese de tendências e tradições diversas que tanto se ) referenciam a um futuro presumido, à proposta de um novo ordenamento político, quanto à recuperação de alguns aspectos do passado das Minas |