Resumo: |
Nos séculos XVI e XVII, saindo de Porto Seguro e de Vitória, expedições entraram pelo interior em busca de uma serra de esmeraldas, supostamente localizada onde se encontra o divisor das bacias dos rios Jequitinhonha, Doce e Mucuri. 0 caminho das esmeraldas pelo rio Doce acabou sendo abandonado pela alternativa paulista. Com a descoberta do ouro se proibiu a navegação dos rios que desciam para o litoral, impondo-se o monopólio da estrada para o Rio de Janeiro. Desta forma, os sertões que ficavam à Leste dos núcleos urbanos ligados à mineração, em Minas Gerais, tornaram-se "áreas proibidas". Mas, com o declínio do ouro, a região foi vista como alternativa para a crise. Entre 1800 e 1845, a navegação fluvial, o acesso ao mercado mundial, a incorporação de território de floresta e a guerra aos índios ocuparam espaço significativo na pauta do governo central e dos governos de Minas e do Espírito Santo. O presente estudo trata da tentativa de fazer do rio Doce um canal de ligação com um porto de mar, objetivando abrir para Minas o mercado mundial. São analisados o processo de ocupação do território cortado pelo referido rio, a viabilidade da navegação pretendida e as razões do insucesso. A designação Sertão do Rio Doce traz em si um conjunto de referências espaciais e temporais que permitem definir um âmbito territorial particular. Este território foi ocupado por tropas irregulares denominadas divisões militares do rio Doce. Destaca-se o período, entre 1818 e 1829, em que seu comando ficou a cargo do francês Guido Thomaz Marlière. Os principais grupos indígenas eram os Botocudos e os Puri, cujo contato e atração possibilitaram liberar território para o avanço do povoamento. O projeto de navegação do rio Doce está dividido em três fases: 1) o investimento direto do Estado; 2) a concessão do direito à companhia de navegação formada por nacionais; 3) a passagem desse direito para o capital estrangeiro. Em 1925, a criação da Companhia Anglo-Brasileira provocou forte reação contrária dos mineiros que conseguiram cassar a concessão. Em 1833, o governo mineiro mudou de postura e colocou toda a esperança no capital britânico, porém, passados dez anos, sem que fosse realizada qualquer obra, abandonou inteiramente o projeto de fazer o rio Doce navegável. |