Religião em Confronto: O Espiritismo em Três Rios (1922-1939)

Angélica Aparecida Silva de Almeida (Orientador: Eliane Moura da Silva)
Dissertação de Mestrado
Programa: Unicamp/PPGH
Defesa: 2000
Banca:
Resumo: No final do século XVIII tem início um processo de afirmação do racionalismo e do cientificismo e de declínio da valorização da religião. Era a gestação da sociedade "moderna" com seus princípios de iberdade, progresso, razão e igualdade. Nesse contexto, em meados do século XIX, surgiu na França uma religião, o Espiritismo, que buscava se adequar aos novos tempos. O Espiritismo foi introduzido no Brasil no momento em que várias outras correntes de idéias, originárias da Europa, invadiam a intelectualidade nacional. A atual cidade de Três Rios(RJ) surgiu a partir da década de 1860, quando se iniciaram os trabalhos de construção das estradas de ferro e de rodagem. Devido a sua privilegiada condição geográfica passou a ser um importante elo de ligação entre Minas Gerais e a Corte, o que desencadeou acentuado processo de sua modernização. Nesse ambiente, em 1895, se formou o primeiro grupo espírita em Três Rios, denominado Grupo Espírita Fé e Esperança (GEFE). A partir de 1922, o movimento intensifica-se, liderado por um grupo de elevado nível sociocultural e de grande influência política na região. Dado seu estreito contato com a elite carioca, encontrava-se altamente influenciado pelos ideais de modernidade que circulavam na Capital da República. Devido a essa influência, detectamos a freqüente colaboração dos espíritas no processo de desenvolvimento do município no início do século XX. No campo assistencial, o GEFE fundou uma farmácia homeopática, o albergue noturno, uma escola primária, um orfanato para meninas, uma maternidade. Para ampliar a divulgação da doutrina, criou uma Escola de Médiuns, uma biblioteca, uma livraria, a "Feira do Livro Espírita", o Jornal O Nosso Guia, a 48 Mocidade Espírita do país, uma Escola de Evangelho para crianças, além de manter um programa radiofônico e duas colunas fixas nos jornais da cidade. A atuação do grupo, tanto na área assistencial como doutrinária, foi fortemente influenciada pelas diretrizes do movimento nacional. A expansão do movimento espírita na cidade desencadeou uma série de reações por parte dos responsáveis pela Igreja Matriz e por certos setores da sociedade. Ao sentir a necessidade de opor-se contra essa ofensiva, a direção do GEFE organizou, em 1939, a Primeira Semana Espírita do Brasil, contribuindo para fortalecer as bases do movimento espírita na cidade. As práticas discursivas e o conjunto de ações acabariam levando o espiritismo a tornar-se um dos agentes de propagação e consolidação dos novos anseios de modernidade, progresso, ordem, liberdade de pensar e agir e de integração da sociedade, típicos do período de transição do século XIX para o xx. A proposta de aliança entre ciência e religião, adequando-se às novas exigências do mundo moderno e aos anseios de espiritualidade do homem, parece ter contribuído de forma decisiva para a penetração e consolidação de uma mentalidade espírita em nossa sociedade
Páginas: 116
Financiamento:
  • Fapesp
URL: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/281875