Resumo: |
O presente estudo comparativo das comemorações do Centenário em quanto países da América do Sul mostra, em primeiro lugar, as dificuldades das elites buenairenses em conciliar o desenvolvimento econômico com o crescimento social do país. Chegada a época do Centenário, os interesses da geração dos 80 chocaram-se com os interesses dos "outros", a grande massa dos imigrantes. Para resolver os problemas internos e externos, a elite argentina recorreu à aliança do país com o Chile e à reafirmação da cultura hispânica como mecanismo para enraizar sua argentinidade e projetar melhor suas relações internacionais e forjar a imagem de potência do Cone Sul Analisamos em seguida como as elites dirigentes chilenas, embora duramente criticadas pelas elites intelectuais, pelos militares e pelas organizações operárias, conseguiram projetar, como no caso argentino, a imagem de potência do Pacífico Sul num confronto claro com o Peru e os Estados Unidos, aliando-se à Argentina. A festa em Santiago construiu a imagem do americanismo, da fraternidade e da união contra o imperialismo. No caso brasileiro, o governo Epitácio Pessoa tentou conciliar as diferentes regiões do país com o centro do poder: o Rio de Janeiro. O presidente Epitácio Pessoa entendia que era possível incentivar o nacionalismo pela via material e simbólica, eliminando a imagem do grande hospital para apresentar, a 7 de setembro de 1922, a imagem do Brasil moderno. O país devia voltar-se primeiro para o grande hospital para projetar suas relações com os países europeus e com os Estados Unidos de onde viria a ajuda econômica, num quadro de relações internacionais de tipo nacionalista pragmático. Sua proposta de unificação da memória nacional por meio da colagem das memórias monárquica e republicana foi gravemente comprometida pela radicalização da crise política - o levante do forte de Copacabana. O Centenário nos Estados mostra que cada região, embora reconhecendo o 7 de setembro como o evento fundador da nacionalidade, tinha outros lugares de memória para cultuar. Finalmente, mostramos como as elites de Bogotá incentivaram o nacionalismo por meio da hispanidade, tal como na Argentina e no Chile. Na Colômbia, a hispanidade e os heróis foram postos em cena com maior intensidade. O país não pudera ainda consolidar seu Estado nacional, por isto os símbolos desempenharam papel primordial. Os heróis foram convocados, não apenas para integrar as regiões à nação, mas também para recriar a Grande Colômbia. A perda do Panamá e a última guerra civil gerou uma forte reação nacionalista preparando as elites colombianas para empreender o caminho para a Nação. O incentivo à economia cafeeira e o desenvolvimento de programas educativos e de obras públicas deveriam retirar o país da barbárie e levá-lo a experimentar as vantagens da civilização, além de resguardar a nação de novas agressões externas. A língua, a religião e a "raça ibérica" deveriam alavancar a construção do estado nacional. |