Resumo: |
O trabalho constitui-se numa reflexão sobre a experiência religiosa ligada ao culto do Divino Pai Eterno que tem ocorrido na cidade de Trindade, interior de Goiás. Parte do estudo da História da Igreja universal, compreendendo as suas conjunturas políticas ao mesmo tempo que recupera a historicidade da romaria ao longo do século XX, alinhavando o contexto político e sócio-econômico da sociedade brasileira à formação de mentalidades. Tem como ponto inicial a insurgente proposta de romanização do santuário que provoca a imigração dos missionários redentoristas os quais encampam uma forte moralização do costume e da família goiana. Contudo, não foram raros os conflitos entre os organizadores do culto e os devotos, pois os primeiros apresentavam-se incansáveis na campanha clericalizadora e, os segundos, resistiram à normatização o quanto puderam, uma vez que os romeiros freqüentadores do santuário eram grupos sertanejos possuidores de uma enraizada religiosidade popular. Na segunda metade do século, sob as reformas do Vaticano II, a hierarquia clerical preocupou-se novamente com os romeiros de Trindade, desta vez em criar-lhes uma ideologia de consciência de classe, seguidoras das propostas da Teologia da Libertação. São notórias as exposições da mentalidade oficial e da religiosidade popular no local. Conclui-se que a devoção ao Divino Pai Eterno se manifesta, no limiar do terceiro milênio, como uma forma cultural híbrida, pois apresenta-se com uma natureza eclesial, mas não separou-se das práticas católicas tradicionais. Ainda que reinventadas, permaneceram as festas e as devoções, possibilitando classificar a romaria numa tênue fronteira entre o sagrado e o profano. |