A Ironia Trágica em Heródoto

Marcos Cardoso Gomes (Orientador: Francisco Murari Pires)
Tese de Doutorado
Programa: USP/SOCIAL
Defesa: 1999
Resumo: As narrativas de Heródoto freqüentemente dizem respeito à figura de um soberano que, confiante contínuos sucessos, considera-se em muito superior aos demais homens. Em virtude dessa consideração, lança-se em aventuras perigosas e acaba encontrando ou a morte, ou uma grande derrota. A história é, então, uma seqüência de ascensões e quedas de reis e de seus povos, que são substituídos por outros com características semelhantes e que também são destruídos pelas mesmas razões com que derrubaram os antecessores. A esse tipo de trajetória este trabalho considera como resultante de uma visão trágica do historiador. Entenda-se por visão trágica não propriamente a presença da dramaturgia em Heródoto (várias passagens de Histórias podem ser transformadas em trechos trágicos, mas não são o elemento dominante), mas ironia trágica. Pois a causa da queda dos muitos soberanos não é senão seu grande desejo de conquista, a avidez com que olha o mundo; ou seja, é ele o causador de sua ruína. Este é o sentido da ironia trágica. Sua forma é a peripécia. Este ensaio, em virtude do tema escolhido, teve a necessidade de trabalhar com todo corpus da obra. Segue o próprio itinerário de Histórias, partindo de Creso,seguindo por Ciro, Cambises, Dario e Xerxes. A cupidez do governante é um traço apenas oriental? Não. Os gregos também portam tal característica. De Pisístrato até Temístocles, de Licurgo até Cleomenes, acrescidos de tiranos de Corinto e de Polícrates, os governantes gregos, vivendo um regime político diferente dos orientais, revelaram características que muito os aproxima destes. Heródoto, como inaugurador do gênero história, aparentemente desconsidera os mitos que reúne em torno da Guerra de Tróia, e trata o soberano despótico com considerável distância crítica. Em troca propõe a autópsia como método mais confiável de observação das ações humanas, e opõe às tendências temerárias do soberano a figura do conselheiro, a ) lembrar-lhe os perigos da aventura em que está a lançar-se. Entretanto, aos poucos o mito mina sua visão de mundo e percebe-se que a trajetória dos persas, partindo para a conquista da Grécia, é uma espécie de resposta oriental à agressão dos gregos a Tróia. Assim, a ironia trágica incorpora o próprio historiador, que a tem como modo de compreender o mundo
Páginas: 301
URL: Tese não digitalizada