Resumo: |
Este é um estudo sobre o escravismo e sobre a formação do universo cultural na Colônia, que toma as Minas Gerais setecentistas como espaço e tempo básicos para as reflexões desenvolvidas. Nele, não pretendo generalizar conclusões parciais, mas insistir na pluralidade histórica ocorrida nas terras da América portuguesa e na capitania mineira. O objeto central do estudo é a vida cotidiana das mulheres e dos homens libertos e seus descendentes. Para melhor abordar o tema enfoquei, também, o período de cativeiro e os relacionamentos mantidos entre africanos, crioulos, mestiços e brancos no cotidiano colonial. Os documentos que eu mais explorei neste trabalho foram os testamentos e os inventários post-mortem de habitantes das Comarcas do Rio das Velhas e do Rio das Mortes. Os mais preciosos legados deixados ao futuro por esses testadores e por inventariantes são visões de mundo, opiniões, relatos sobre variados aspectos daquela sociedade, informações sobre conhecimento técnico, sobre comportamento, sobre indumentária, culinária, mobiliário, vida familiar, instrumentos e formas de trabalho. Legaram-nos, também, impressões sobre os relacionamentos corriqueiros desenvolvidos entre os diferentes agrupamentos sociais e no seio de cada um, estratégias de adaptação, de enfrentamento e de resistência, assim como exemplos de representações e de práticas culturais híbridas e impermeáveis. E ainda mais: testadores libertos registraram nos documentos celebrações de vitórias conquistadas por eles, tais como a alforria e a ascensão econômica. Fizeram isto recorrendo, em muitos casos, ao uso de metáforas, insinuações e práticas dissimuladas. E as mulheres forras e escravas foram asque melhor executaram esses estratagemas. Como resultado das pesquisas desenvolvidas, este estudo demonstra com exemplos, dados e reflexões a atuação efetiva de libertos e de escravos na construção da dinâmica e multifacetada sociedade colonial |