O Ressurgir das Cinzas. Negros Paulistas após a Abolição - Identidade e Alteridade na Imprensa Negra Paulistana

Marina Pereira de Almeida Mello (Orientador: Emanuel Soares da Veiga Garcia)
Dissertação de Mestrado
Programa: USP/ECONOMICA
Defesa: 1999
Resumo: A produção empreendida pela Imprensa Negra paulistana será analisada nesse trabalho, enquanto a organização de um povo oprimido e vilipendiado em seus princípios e valores, bem como espoliado duplamente no processo de Abolição: - primeiro das condições materiais de sua subsistência e existência; depois de uma tão sonhada noção de liberdade, nunca alcançada. Desajustado e despreparado para compreender a nova estrutura social competitiva e assentada em relações contratuais, na luta como imigrante, o negro foi oprimido e comprimido pelas contradições e conflitos de ordem econômica, social, política, ideológica e psíquica, decorrentes dessa situação. Para não sucumbir, restava-lhe a reação, através da conscientização e da organização, a fim de resgatar a dignidade e conquistar a cidadania. Nosso estudo concebe essa imprensa como um canal de resistência, em prol da integração. Essa imprensa refletirá a inquietação, a angústia, o questionamento e a indignação perante esse mundo que celebra o estrangeiro e transforma o elemento negro nacional em um ser invisível, inaudível, incapaz e inútil. Seus jornalistas pleiteavam a transformação dessa realidade excludente, a partir da elaboração de uma nova tábua de valores, que fosse capaz de reverter os estigmas e os preconceitos nos quais se alicerçavam a discriminação e a exclusão. Seu discurso tentará mobilizar o elemento negro para conquistar os pré-requisitos ditados pela ideologia dominante. Analisaremos o universo contemplado por tal imprensa, a partir de quatro eixos constitutivos de sua identidade: Pátria, Família, Trabalho e Cultura, enfatizando que seu arsenal será impregnado dos conceitos racionalistas e cientificistas, difundidos pelos doutores da Medicina e bacharéis do Direito, ícones do saber na época. Entretanto, uma leitura mais atenta desse material, nos desnudou a existência de um outro mundo, que subjaz a esse universo idealizado e celebrado: o do negro real, que subsistiu e resistiu, a despeito de sua cosmovisão, absolutamente diversa e conflitante à moral do trabalho, da ordem e da disciplina, sugerida pelos jornalistas da Imprensa Negra. Estudaremos esses dois mundos a partir de seus agentes, suas palavras, seu comportamento e de suas perspectivas diante dos conflitos estabelecidos pela nova realidade urbano-mercantil, vigente no período estudado.
URL: Tese não digitalizada