Resumo: |
A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil começou a ser construída em Bauru (SP) em 1905, com destino a Cuiabá (MT). Entre 1907 e 1908 seu traçado foi alterado, passando a dirigir-se a Corumbá, no sul de Mato Grosso, e em 1914 ficou concluído o trecho entre Bauru e o Porto Esperança (à margem esquerda do rio Paraguai). O presente trabalho trata da história dessa ferrovia no período decorrido entre sua plena configuração como uma estrada federal (1918) e sua incorporação à RFFSA; nesse período a ferrovia foi concluída, sendo levada até Corumbá (onde se conectou à E. F. Brasil-Bolívia, construída na mesma época), e ampliada, mediante um ramal dirigido à fronteira com a República do Paraguai, em Ponta Porã; além disso, a Estrada passou por profundas remodelações no trecho paulista - trecho em que a ferrovia constituiu-se no agente de importantes transformações socio-econômicas. No primeiro capítulo buscamos principalmente recuperar a história desse processo de acabamento e ampliação, bem como as vicissitudes administrativas da empresa. No segundo capítulo buscamos demonstrar a persistência do caráter estratégico da Noroeste em Mato Grosso, já demonstrado na época de sua construção, e para tanto examinamos tanto a situação interna do Estado de Mato Grosso como as relações do Brasil com a Bolívia, o Paraguai e a Argentina. O terceiro capítulo dedica-se à análise do desempenho econômico-financeiro da Noroeste, procurando conjugar o exame dos indicadores de seu desempenho com aconsideração dos mais importantes condicionamentos que sobre ela pesavam - tanto os condicionamentos específicos, como o peso da "herança" (os problemas vindos desde a época da construção), quanto aqueles presentes na generalidade das ferrovias brasileiras: a concorrência rodoviária e as pressões oriundas das elites dominantes; buscamos efetuar também uma análise do dilema que permeia a história da ferrovia, a saber, a dicotomia "sentido ) político" versus "sentido econômico". O último capítulo é dedicado ao estudo das relações entre a Noroeste e o sul de Mato Grosso. Assim, analisamos a presença da ferrovia nos ramos econômicos mais importantes dessa região na época; examinamos as relações entre a ferrovia e outros meios de transporte; finalmente, buscamos correlacionar os efeitos da presença da Estrada às condições concretas da estrutura sócio-econômica da região, bem como às condições de sua ligação, enquanto área periférica, com o centro dinâmico da economia brasileira. No geral, consideramos haver demonstrado que os impactos econômicos e demográficos da Noroeste sobre a região considerada têm sido superestimados pela bibliografia. |