História Demográfica de Itajaí: Uma População em Transição - 1866-1930

Maria Bernardete Ramos Flores (Orientador: Marly Anna Fortes Bustamante Mira)
Dissertação de Mestrado
Programa: UFSC/PPGH
Defesa: 1979
Banca:
Resumo: Itajaí, litoral norte de Santa Catarina, fundado a 31 de março de 1824 e povoado por descendentes de açorianos, de vicentistas e outros lusos-portugueses, teve seu crescimento populacional acelerado devido as grandes ondas migratórias da vizinhança, em grande parte, que passou a absorver em decorrência, principalmente, de sua posição geográfica, como porto escoador dos produtos do interior e receptor de produtos importados e até mesmo de imigrantes europeus. Devido a heterogeneidade de sua população e a sua situação geográfica, a sociedade itajaiense caminha a passos largos na transformação de seus costumes e alcança em tempo hábil, um estágio demográfico próprio das regiões desenvolvidas. Assim é que, no intuito de limitar a prole, os casamentos começam a ser retardados. As mulheres, que, em média, casavam aos 19 anos, entre 1876 e 1880, passam a casar-se por volta dos 22 anos, em média, entre 1926 e 1930. E as famílias reduzem o número médio de filhos de 5,52 para 3,75. A natalidade, por sua vez, tem suas taxas diminuídas de 52,7% em 1866 para 30,5% em 1930. Em termos de saúde, a população também apresenta uma melhora considerável, principalmente quanto às doenças epidêmicas, e a mortalidade baixa de 34,2 óbitos por mil habitantes em 1866, para 11,4 em 1930. Os movimentos sazonais de mortalidade apresentam tendência ao nivelamento das curvas, demonstrando a existência da capacidade humana de controlar a morte nas épocas em que ela se apresenta de forma mais impiedosa. A Igreja, durante o período analisado, demonstrou certa tolerância quanto aos filhos ilegítimos cujos pais viviam amasiados, batizando-os normalmente, enquanto que os filhos de mães solteiras, cuja paternidade não era reconhecida, levaram sempre a marca de "filhos naturais". Quanto aos períodos ditos proscritos pela Igreja para casar e conceber, como a quaresma, em março e o advento, em dezembro, não marcaram sensivelmente as curvas de sazonalidade. Dezembro não constituiu, durante todo o período analisado, um mês de baixa nupcialidade, nem tão pouco de concepções. Pelo contrário, foi o terceiro mês mais concorrido para casamentos e o segundo para concepções. Com respeito ao mês de março, houve uma certa restrição aos casamentos, cujas curvas de sazonalidades apresentam um maior vazio nos períodos antigos, e uma tendência ao nivelamento, demonstrando afrouxamento da Igreja no sentido de abandonar sua antiga posição quanto ao tempo proibido para casar e conceber. Já, os movimentos sazonais de concepção, traçaram curvas bastante niveladas por todo o período, com uma leve depressão no mês de março, mas que não foi o suficiente para indicar a influência da Igreja na vida sexual conjugal. Por outro lado, embora a grande maioria da população fosse seguidora do catolicismo, a sociedade resistiu à influência da Igreja, com respeito à limitação da natalidade, e obedeceu a fatores de maior força, modernizando-se ao ponto em que mais de 50% das famílias baixaram o número médio de filhos para quatro ou menos.
Páginas: 172
URL: http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/74885