Os Faróis do Tempo Novo - Política e Cultura no Amanhecer Republicano da Capital Catarinense

Rosângela Miranda Cherem (Orientador: Maria de Lourdes Monaco Janotti)
Tese de Doutorado
Programa: USP/SOCIAL
Defesa: 1998
Resumo: O início da república na capital de Santa Catarina foi marcado pela confluência de importantes forças de oposição ao Governo Federal. Assim, aos adversários do Partido Republicano Catarinense somaram-se os rebeldes da armada e os federalistas gaúchos. Por sua vez, testemunhando tais acontecimentos, entre 1890 e 1900 Duarte Paranhos Schutel escreveu uma obra jamais publicada intitulada A República vista do meu canto. Então, é propósito da presente pesquisa compreender aqueles manuscritos enquanto depoimento de uma época; sendo que, mais do que confirmar ou negar sua veracidade, trata-se de procurar a partir de quais experiências e perspectivas os mesmo foram sendo elaborados. De acordo com esta preocupação, são levantadas questões, respectivamente distribuídas ao longo dos capítulos. Inicialmente, procura-se mostrar como o regime republicano chegou àquela cidade. Compatível com o desafio de promover tal mudança sem alterar a ordem social vigente, aparecem nos documentos oficiais e nas fontes impressas, enormes esforços no sentido de caracterizar um tempo de superação de contrastes, prometendo prosperidade, unidade e avanço. Porém, sob o domínio do caótico e do arrivismo, os mesmos registros também remetem a uma intensa luta travada entre grupos e facções com vistas a obter o controle e o monopólio da política institucional. Em seguida, procurando um outro ângulo para pensar a legitimação republicana, foram analisadas algumas obras literárias e as trajetórias de seus autores. Expressando um contingente de coadjuvantes, os mesmos valorizaram a interioridade humana em detrimento dos assuntos da vida pública e dos acontecimentos políticos, indicando parte de um universo cultural, no interior do qual as relações de amizade e os interesses pessoais estiveram acima dos valores coletivos e dos princípios da rés-pública. Por fim, através da parte de variedades dos jornais, procura-se as marcas assinaladas como sendo de um, novo tempo político e cultural. No seio da incipiente classe média urbana da capital catarinense, um conjunto de valores e expectativas, pertencentes à trajetória da modernidade, cruzou-se com as turbulências daqueles anos, acabando por priorizar um público de leitores, consumidores e expectadores, o qual apenas acompanhava, assistia e assimilava os fatos. Confirmando um afastamento entre as fronteiras do Estado e da Sociedade, sem que se reconhecessem enquanto cidadãos politicamente organizados, tendo em vista o destino da recém-nascida República, os mesmo mantiveram-se atentos, ainda que pouco dispostos ao envolvimento nas disputas com as quais não se sentiam legitimados e com as quais não se reconheciam como parte beneficiada. A partir das respostas encontradas, articulando-se e iluminando-se reciprocamente texto e contexto, ganham sentido o conteúdo e até mesmo o título da obra de Duarte Schutel. Guardando os atos e episódios, embates e desafios, bastidores e desdobramentos daquele amanhecer, auto-excluído da politica partidária, o mesmo autor adentrava num território de recolhimento e desilusão de onde jamais desejou retornar
URL: Tese não digitalizada