Resumo: |
A presente tese procura contar a história do Alto Juruá, Acre, entre 1870 e 1945, através da interpretação de documentos judiciais, de entrevistas de história oral e da bibliografia. A região do Alto Juruá foi ocupada a partir da década de 1870 por seringueiros nordestinos, trazidos por firmas comerciais e por particulares que se apropriavam dos seringais nativos. Durante o período de apogeu do preço da borracha no mercado internacional, configurou-se na região em que as mulheres não tinham nenhum papel produtivo reconhecido, já que a extração da borracha era considerada um trabalho essencialmente masculino, e não havia lugar para outras atividades nos seringais. No primeiro capítulo da tese, procuro mostrar a constituição desta sociedade dos seringais e dar visibilidade para as mulheres neste processo, pois, embora fossem em menor número que os homens (em torno de 25% da população), elas desempenharam atividades variadas, apesar de não reconhecidas, inclusive o corte da seringa. A partir de 1912, porém, o preço da borracha no mercado internacional entrou em decadência, o que trouxe significativas transformações. No segundo capítulo, mostro como as mudanças nas relações de gênero, ocorridas com a crise, tornaram possível a sobrevivência e deram condições para o desenvolvimento de um modo de vida mais autônomo e "sustentável". O terceiro capítulo trata da relação entre índias e seringueiros. O embate entre índios e brancos pela ocupação da região do Alto Juruá envolveu o massacre e aprisionamento de índios e índias, através das "correrias", bem como, em algumas casos, a incorporação de tribos inteiras como trabalhadores pelos seus próprios captores, após um período de "amansamento". Busco, entretanto, mostrar como as mulheres índias, em meio a esta situação de franca opressão, foram personagens ativas na criação do modo de vida dos seringais, que, através delas, incorporou muito da cultura indígena. A violência atravessava a sociedade dos seringais como uma linguagem, por todos usada, e marcava as relações entre patrões e seringueiros, homens e mulheres, pais e filhos. É sobre esta linguagem da violência e, principalmente, sobre como as mulheres lidavam com ela, em seu cotidiano, que trata o quarto capítulo. No epílogo, convido o leitor a uma viagem no espaço e no tempo através de fotografias da região do Alto Juruá tiradas em 1995, durante o trabalho de campo |