Descortinando o Poder e a Violência nas Relações de Gênero: Uberlândia - MG - 1980/1995

Cláudia Costa Guerra (Orientador: Esmeralda Blanco Bolsonaro de Moura)
Dissertação de Mestrado
Programa: USP/ECONOMICA
Defesa: 1998
Resumo: Nos anos 80, a violência doméstica, em especial a conjugal, antes restrita ao âmbito privado dos relacionamentos, torna-se visível e o fenômeno passa a ser sistematicamente discutido no espaço público. Visando descrever, quantificar e analisar essas relações de gênero violentas e na tentativa de verificar como se constituem e os mecanismos de seu funcionamento, manutenção e reprodução, a pesquisadora procurou penetrar nas tramas e tensões conjugais, assim como no cotidiano dos órgãos de atendimento, onde ocorrem as cenas, as queixas e os desfechos. Para tanto, foram utilizados depoimentos de mulheres agredidas, matérias divulgadas pela imprensa, queixas registradas na Delegacia de Mulheres e narrativas dos(as) que ali trabalhavam, assim como processos criminais e questionários aplicados a mulheres, além de levantamentos estatísticos produzidos durante os anos 80 e início da década de 90, em Uberlândia-MG. As relações conjugais violentas são marcadamente de poder. Estão longe de, simplificadamente, constituírem "vilões" e "mocinhas". Nesse jogo complexo e relacional as auto-representações e representações do outro explicitam concepções sobre o masculino, o feminino e acerca de seus papéis, geralmente dicotomizados, naturalizados e enraizados sob valores tradicionais que contribuem para a perpetuação e ritualização da violência. Ao desconsiderar, negar e não se dispor a enfrentar as ambigüidades e contradições presentes na relação violenta, marcada pela parceria(considerando-se as hierarquias e supremacia real do masculino), a mulher atua como vítima - uma certa imagem de mulher -, constituindo-se enquanto não-sujeito. Dessa forma, uma comunicação perversa entre os casais se estabelece mediada pela violência que a mulher alimenta, ao aprisionar-se nessa relação. A complexidade da análise, longe de supor culpados ou inocentes, sugere um repensar aos protagonistas das cenas, como aos órgãos de atendimento, com o intuito de se criarem condições concretas e eficazes, para que muitas dessas mulheres possam vivenciar relacionamentos mais saudáveis
URL: Tese não digitalizada