Resumo: |
A década de 20 assistiu a inúmeras transformações econômicas e políticas que lançaram o mundo em uma nova fase de sua história. A emergência do nacionalismo e o advento da Primeira Grande Guerra trouxeram novidades definitivas, como o fortalecimento do Estado, a prática do planejamento e a emergência de movimentos nacionalistas de cunho autoritário. No Brasil a crise econômica e política se fez presente ao final do governo de Epitácio Pessoa, no dramático episódio da revolta do forte de Copacabana. Coincidentemente, é também nessa conjuntura que se inicia um movimento de revisão histórica, no qual se revalorizou a experiência monárquica. Ao completar cem anos como nação independente, a República rendeu-se a tradição monárquica revolvendo o passado, agora glorioso, em busca do mito da fundação nacional. É sobre a experiência de refundação da memória nacional, nos anos 20, que se assenta o fundamento de nossa pesquisa. Inicialmente, retornamos ao século XIX com o objetivo de mapear a maneira pela qual a historiografia elaborou e refletiu sobre a gênese da nação, sob a tutela monárquica: enveredamos pelos textos historiográficos, pela dramaturgia e pela pintura em busca da substância, do drama e das cores que retrataram 1822 para, em seguida, percorrermos longamente a reelaboração da imagem nacional na ocasião do centenário da independência, em 1922, e no centenário de nascimento do Imperador, em 1925. Nestes dois episódios a República procedeu a umavalorização da experiência imperial e da própria figura de D. Pedro II, chegando até mesmo a rever o ato de banimento da família imperial e a receber os despojos do velho Imperador, com honras de chefe de Estado. Ao lado de eventos simbólicos tão significativos que apontavam para um tipo de "pacificação" da memória, a Velha República enfrentava um grande número de rebeliões militares e um clima de descontentamento generalizado, claramente, expresso na difícil ) conjuntura do governo de Artur Bernardes. O apelo a pacificação do passado ganha contornos de um projeto político se atentarmos para o enorme investimento simbólico em torno das comemorações, principalmente, no governo de Epitácio Pessoa. Pretendia a República recuperar a "imagem da ordem", tão cara a elite imperial, como fundamento de uma tradição que deveria ser recuperada. Aliás, também é nesse período em que o presidente da República pretende ampliar os seus poderes. Finalmente, cabe ressaltar, que o projeto de memória aí gestado encontra na chamada Revolução de 30, momento de inflexão, ou seja, doravante se pretende instituir um novo marco fundador. Mais uma vez, Epitácio Pessoa se envolve em uma disputa de memória, negando-se a reconhecer os tenentes como obreiros da revolução. Após 30, a monarquia conseguiu sagrar-se como tradição nacional em meio ao fortalecimento do regime autoritário |