Resumo: |
As Missões Jesuítico-guaranis foram organizadas pela Companhia de Jesus e pelo Estado Moderno espanhol. No âmago das Missões estava o "índio reduzido", o índio guarani que havia sido convertido à fé católica e transformado em fiel cristão e vassalo do monarca espanhol. O "índio reduzido" viveu uma experiência missioneira sem similares na América Espanhola, com o seu trabalho transformou a terra, consagrando-a como "Terra da Promissão", semeou e colheu os frutos que o sustentaram e serviram para pagar o tributo ao rei espanhol. Além disso aprendeu a domesticar o gado, executou as lides campeiras e colocou a canga no boi para puxar o arado e ampliar os horizontes das lavouras. E quanto mais se produzia nas lavouras coletivas, mais a família missioneira usufruía do produto. Dessa forma, o êxito sócio-econômico se efetivava e as implicações à evangelização do índio se faziam notar, pois por volta de 1750 havia nada mais do que 120.000 índios cristãos pulverizados em trinta povoados missioneiros. O fulcro desta realidade está na relação entre a ordem natural e a ordem sobrenatural. O guarani que vivia na Missão trabalhava a terra em nome da Fé e do poder político, consolidando a perfeita aliança Trono e Altar. Assim, a Missão se constituía num ponto de sustentação à Cristandade Ocidental, porém, com uma comunidade de cristãos bastante peculiar: o guarani-missioneiro, uma identidade singular no Sistema Colonial espanhol. Para manter o modelo de experiênciamissioneira, o "índio reduzido" teve que guerrear contra os inimigos daquela ordem, entendida pelos índios cristãos, como natural. Qualquer oposição era interpretada como contravenção à ordem, concebida como natural, entretanto emergida de uma decisão sobrenatural. Os "índios reduzidos" não tinham a menor dúvida que fora Deus quem lhes concedera a terra e era somente a sua interação divina que explicava os sucessos e insucessos do cotidiano do povoado. Esta ) compreensão corroborava com a prática da Cristandade. Para interpretar a Missão à luz da Cristandade, dividiu-se o presente trabalho em três partes: Os fundamentos teológicos e sociais do "índio reduzido", desde como ele foi concebido até a sua efetivação; a experiência missioneira, ou seja, a forma como o "índio reduzido" viveu e guerreou para construir e concretizar a Missão; a redefinição do espaço missioneiro através das estipulações do Tratado de Madri de 1750, e a sua principal implicação, a rebelião indígena dos guarani-missioneiros na conhecida Guerra Guaranítica, o que também se constitui numa redefinição da relação entre o rei e seus vassalos revoltados |