Resumo: |
A partir da análise do discurso americanista do pensador cubano José Julián Martí y Pérez (1853-1895), extrai-se que sua proposta de uma sociedade alternativa, condensada em seu conceito Nuestra América, assume a forma e a essência de um projeto que se aproxima de um gênero utópico influente nas obras de inúmeros pensadores hispano-americanos de século XIX. Tal gênero apresentava três momentos claramente definidos: o diagnóstico e a crítica sobre a realidade social vivida, a apresentação da proposta da sociedade alternativa indicando os caminhos para sua concretização e, por fim, a definição do sujeito social eleito para levar a cabo tal tarefa. A originalidade do projeto martiano se assentaria na inversão das categorias de análises empregadas pela retórica modernizadora, praticada por parte da intelligentzia hispano-americana de sua época. Visando colocar em relevo e superar as perspectivas eurocentristas de representação do ser americano, pautadas na polarização entre civilização e barbárie, Martí confronta os diferentes diagnósticos, propostas e sujeitos das várias representações possíveis. Abraçando uma modernidade própria, de bases autóctones, define a especificidade do seu ser nuestramericano, a quem buscará mediar e representar através de sua ação discursiva utópica. |