Resumo: |
Entendendo o tradicionalismo como expressão de um modo de vida moldado por um conjunto de relações sociais não capitalistas (ou pré-capitalistas), a sua compreensão no Além-São Francisco, no oeste baiano, passa pelo entendimento dos vínculos frágeis historicamente mantidos com os centros dinâmicos da economia do país, desde o surgimento dos primeiros currais e fazendas até as décadas de 1960/70. Esse mundo, concebido pelos seus representantes como o tempo da fartura e da harmonia social, sustentado em relações diretas e inter pessoais entre patrões e empregados, e entre as diferentes categorias de produtos rurais, foi sofrendo um lento processo de diferenciação social até 1950/60, seguido de um ritmo mais intenso, sobretudo nas décadas de 1970/80, graças à difusão, de fora para dentro, de um novo padrão agrário ligado à dinâmica do grande capital industrial e financeiro. As contradições derivadas da expansão dessa nova dinâmica, amparada e estimulada por políticas públicas estadual e federal, e pelas facilidades de privatização de terras de domínio estatal, como pela vulnerabilidade jurídica das velhas propriedades rurais, resultaram em grilagens dissimuladas ou não, geradoras de conflitos diretos e indiretos. Esse processo afetou drasticamente as condições de vida de posseiros e criadores, expropriando-os e criando bolsões de desempregados, transferindo o ônus da sobrevivência das famílias camponesas para a sociedade urbana e para o poder público. |