| Resumo: |
Na história da arte goiana, impõe-se o estudo da obra do imaginário José Joaquim da Veiga Valle (1806-1874), única cujos contornos podem ser conhecidos dado o anonimato e a dispersão das demais. Destacamos o critério histórico para direcionar a análise estilística, afastando os conceitos de arte anacrônica ou extemporânea. A periodização por modelos de estilo europeus é abstrata, pois as manifestações artísticas provincianas têm o seu tempo próprio. A referência metodológica apóia-se em Mário de Andrade (Pe. Jesuíno do Monte Carmelo) e nas teorias de atribuição e peritagem de Morelli, Friedlander e Berenson, essenciais ao reconhecimento de obras anônimas, como é o caso da arte religiosa em geral. O codificado e o impessoal da imaginária exigem a análise estilística comparada de pormenores, para a identificação de uma caligrafia escultórica singular. Das demais partes do trabalho, - produção artística (levantamento de fontes, aprendizado, cronologia, encomendastes, procedimentos artesanais), catalogação, características e biografia -, a maior cabe à análise da obra, constituindo-se as outras em informações complementares. O levantamento é parcial, mas suficientemente representativo. O figurado é tão documental quanto o escrito compensando as fontes escassas, inacessíveis, ou indiretas. Na obra buscamos a resposta para confirmar o aprendizado do ofício e sugerir uma cronologia de ordem estilística. O fichamento descrito e crítico da imagens inclui também a discussão de atribuições tradicionais e levanta outras. Estilisticamente, as imagens apresentam-se em três grupos: as barrocas (rococós), as neoclássicas, e as que interceptam os dois estilos. Desses grupos avulta o dual, na articulação harmônica de estilemas rococós e neoclássicos da forma e dos ornamentos. A biografia sociológica-histórica situa Veiga Valle na aristocracia regional, nas irmandades e nos cargos políticos. Embora inserido no grupo das "pessoas gradas", a documentação atribui-lhe uma situação financeira modesta. Em Veiga Valle coexistem um oficial de artes mecânicas e um homem político que pertence às elites - contradição mais aparente que efetiva, se forem consideradas as especificidades cultural, histórica. e a questão do artista isolado, sugerindo uma divisão social do trabalho pouco diferenciado na Província de Goiás. |
