Resumo: |
Esta pesquisa procura recuperar as experiências urbanas de capoeiras e malandros na cidade do Rio de Janeiro, após a extinção oficial do regime de trabalho escravo. Estampados entre 1890 e 1950 como sinônimos da violência urbana, eles mantiveram uma tradição de luta pela liberdade aprendida desde os tempos da escravidão, procurando preservar uma margem de autonomia e deliberação sobre suas próprias vidas. Envolvidos por um contexto de valorização moral do trabalho e de exaltação da figura do trabalhador, foram rotulados como sinônimos de vadiagem e violência urbana. Ao longo do texto, pretendi, exatamente, mostrar que aquilo que as falas disciplinares da polícia, da grande imprensa e de intelectuais ligados ao Estado ou a suas propostas percebiam como desordem e ameaça social era, quando analisado por um ângulo mais interno, uma prática de vida onde a liberdade pretendia ser preservada. É claro que não coloco capoeiras e malandros como personagens iguais, mas procuro salientar que entre eles é possível alinhavar uma tradição. Assim, reaparecem aqui várias questões trabalhadas na historiografia brasileira mais recente, tais como as visões de liberdade alicerçadas pelos negros, os projetos disciplinares de controle da população pobre da cidade e a resistência oferecida pelos grupos populares a estes mecanismos. A música popular brasileira é, por assim dizer, o eixo documental deste trabalho, que se utiliza, ainda, de fontes literárias, jornalísticas, policiais, biográficas e de memória. |