Resumo: |
Este trabalho tenta explicar o por quê da seca ter se tornado um problema regional e nacional a partir da grande seca de 1877, quando este fenômeno era secular. Para entender o por quê da problematização da seca neste momento e o seu deslocamento para o centro do discurso regional como o "problema da região", recorremos a uma análise estrutural da sociedade "nortista" neste período, buscando uma explicação para este fato, a partir da conjuntura que a cercou. Tentamos também perceber a formação de um discurso em torno do fenômeno, o "discurso da seca", que a transforma em tema privilegiado e explicação para todos os problemas enfrentados pela região, além de servir de pretexto para reivindicações às mais diversas, desde investimentos na região até a própria manutenção das relações de poder aí presentes. Na constituição do discurso da seca vão se intercruzar vários discursos que se preocupam com o tema, desde o discurso popular até o discurso oligárquico, passando pelos discursos da Igreja, dos técnicos e da "literatura regionalista". Todos irão veicular uma imagem da seca, bem como ligar esta a outros temas de interesse de cada grupo ou instituição social. Estes vários discursos sobre a seca ao se conflitarem darão origem a um discurso outro, o discurso dominante sobre o fenômeno, o "discurso da seca", que não é redutível a nenhum destes em particular. Por fim, procuramos demonstrar as consequências práticas deste discurso, e como estas levam a reformulações táticas e estratégicas no próprio discurso. |